Por:  Marina Paesano

Publicado na revista Mais Saudável edição especial ano 1 no.1 – Matéria de capa

Em média, passamos 1/3 de nossas vidas dormindo (de 20 a 25 anos!). Por que, ou para que?

Esse mistério vem intrigando cientistas no mundo todo. Não sabemos com total exatidão porque dormimos ou com que propósito. O que se sabe, é que o sono faz parte da vida e tem inúmeras funções no organismo, muitas relacionadas à conservação de energia, o que leva à preservação do equilíbrio físico, mental e emocional.

Pode ser que a função principal do sono seja nos permitir sonhar…

Nos anos 50, os cientistas começaram a medir a atividade elétrica gerada pelo sono. Logo descobriram que o sono não era como se imaginava. Durante o sono, a mente não permanece inativa como parece, o cérebro sofre uma série de transformações durante o sono.

Quando começamos a deixar o estado de vigília e ficamos sonolentos, o registro de nossas ondas cerebrais muda. Este é o primeiro estágio do sono. Gradualmente, descemos a níveis mais profundos de inconsciência (estágios 2 e 3 do sono). Depois de aproximadamente 20 minutos, entramos no quarto estágio. Esta é a fase mais profunda do sono. As ondas cerebrais são lentas e ondulantes. Após 90 minutos, as ondas cerebrais mudam subitamente. Surgem movimentos frenéticos e bruscos, indicando grande atividade cerebral, como no estado de vigília, apesar da pessoa estar dormindo profundamente. Pode-se observar movimentos rápidos e bruscos nos músculos dos olhos. Este é chamado de sono REM (Rapid Eye Movements). De fato, se só olharmos o gráfico desta fase do sono, é difícil dizer se a pessoa está acordada ou dormindo. Os dois estados parecem igualmente ativos. O sono REM ocupa de 20 a 25% do total do sono, mas é considerado tão importante, que o restante é chamado de sono Não-REM.

Este último é constituído do estágio 1, que corresponde de 5 a 10% do total do sono, o estágio 2 (45 a 50%) e os estágios 3 e 4 (18%) que são os estágios mais profundos.

Os períodos de sono REM acontecem em intervalos de 90 min durante a noite, e a cada novo período, o sono REM será mais longo.

Assim sendo, temos três estados a considerar: VIGÍLIA, Não REM e REM. Estes estados ocorrem separadamente e parece melhor que um estado não se sobreponha ao outro. Pequenas interrupções ocorrem durante o sono, mas a consciência e a memória não são recuperadas. Isto acontece de 30 a 60 vezes por noite, quando acordamos para mudar de posição, arrumar as cobertas, etc. Essas interrupções ocorrem na troca entre um estágio e outro, sem que a pessoa se lembre disso pela manhã.

Ao acordar pacientes durante o sono REM, os cientistas descobriram que estes estavam sonhando. Fora desses estágios, a maioria não sonha. Isto quer dizer que sonhamos todas as noites, várias vezes, a cada fase REM do sono, apesar de muitas vezes não lembrarmos dos nossos sonhos.

O corpo sofre uma paralisia quase completa durante o sono REM. É a maneira que a natureza encontrou para garantir que não vamos nos ferir “representando” nossos sonhos, enquanto dormimos.

Por que os sonhos são tão importantes?

O sono REM e os sonhos são universais. Existem durante toda a nossa existência e em outras espécies também.

Nos anos 70, um pesquisador do sono teve a idéia de impedir os sonhos de um grupo de voluntários (estudantes de medicina). Quando estavam prestes a entrar no sono REM eram acordados. Depois de algum tempo, as imagens oníricas invadiam a vigília, através da sobreposição de imagens, por exemplo, ao assistir uma aula, outras imagens se interpunham entre eles e o professor. Isso prova o quanto é importante sonhar.

Sonhar não é um acontecimento aleatório, porque na natureza, nada é aleatório.

Carl Gustav Jung foi um grande estudioso dos sonhos. Ele disse:

“É característico que os sonhos nunca se exprimam de uma maneira logicamente abstrata, mas sempre por meio de parábolas ou analogias. Esta é também uma característica das línguas primitivas… Assim como o organismo conserva os traços de sua evolução genética, da mesma forma o faz a mente humana. Por isso não é surpreendente a possibilidade de que a linguagem figurada dos sonhos seja um vestígio de um modo arcaico de pensamento”.

Na ciência, diferentes regiões do cérebro se especializaram em diferentes tipos de pensamentos. Durante o sono REM, áreas do cérebro entram em grande atividade, exceto a região frontal, que permanece adormecida. É nesta área, mais evoluída, onde acontecem os pensamentos mais sofisticados. Durante o REM, áreas primitivas são mais ativadas. Se a área do pensamento mais elaborado está adormecida, o pensamento fica desorganizado, ilógico, assim como nos sonhos.

O Sistema Límbico está localizado em uma região muito antiga do cérebro e é responsável por nossas emoções. Isto quer dizer que quando sonhamos, retornamos a uma maneira mais primitiva e menos racional de pensar. Nossas emoções assumem o controle. Nós precisamos sonhar…

Jung via o sonho como um produto bastante objetivo e natural da psique: ”O sonho é uma auto representação em forma espontânea e simbólica da situação atual do inconsciente”. Desta forma, todo o sonho pode ser visto como uma mensagem de uma inteligência arcaica e superior, empenhada em oferecer novas atitudes significativas.

Com as atribulações do dia a dia, e com as dificuldades em nosso processo de desenvolvimento, quantas vezes nos deitamos com um problema, com algo nos incomodando e acordamos com uma solução, ou simplesmente sentindo-se bem melhor…

“Há, em cada um de nós, um desconhecido. Ele aparece nos sonhos e fala-nos da forma como nos vê, tão diferente daquela como nós mesmos nos vemos. Portanto, quando nos encontramos numa situação difícil, para a qual não vemos solução, ele pode, algumas vezes, acender uma luz que altera radicalmente nossa atitude” – C.G. Jung.

As mudanças de humor durante a noite não são por acaso. Enquanto dormimos resolvemos nossos problemas emocionais. Durante o sono, as sensações incômodas ativam uma rede de conexões emocionais que tem sentimentos semelhantes em experiências vividas no passado. No primeiro período de REM, o cérebro acessa esse aglomerado de emoções e revivemos na forma de sonhos. Por isso, geralmente o primeiro sonho da noite é o mais perturbador. No segundo período de REM, o cérebro trabalha nossos problemas emocionais, só que desta vez busca uma rede de memória procurando uma solução para o problema. Com o passar da noite, os sonhos ficam cada vez menos perturbadores, e assim nos ajudam a aceitar nossas dificuldades, ou ver as situações sob outro ângulo.

A função do sonho é um ajustamento psicológico, uma compensação indispensável ao equilíbrio. No sonho se apresentam os pontos de vista que foram insuficientemente considerados ou ignorados, isto é, mantiveram-se mais ou menos inconscientes. Todos esses elementos são necessários para a reflexão e tomada de decisão consciente.

INSÔNIA

Na Medicina chinesa, há um relacionamento entre o Corpo e a Mente:

A quantidade e a qualidade do sono dependem do estado da Mente (Shen) e da Alma Etérea (Hun). A mente é enraizada no Coração, que está ligado ao sangue.

Um coração saudável e sangue abundante geram uma Mente devidamente enraizada e o sono será profundo. Se o Coração for deficiente, a Mente não será devidamente enraizada e o sono será perturbador.

A Alma etérea tem sua morada no Fígado. TANG ZONG HAI diz:

“À noite, durante o sono, a Alma Etérea retorna ao Fígado; se a Alma Etérea não estiver em paz, ocorrem muitos sonhos”. Os fatores patogênicos também podem “agitar” o Fígado: “Estafa, preocupação e pensamento excessivo, prejudicam o Sangue e os fluidos, de tal forma que a Mente e a Alma Etérea são despojados de sua residência, resultando em insônia”.  ZHANG JING YUE.

A insônia é a dificuldade em iniciar ou em dar continuidade ao sono. Caracterizamos insônia quando um desses fatores ocorre:

  • Dificuldade para adormecer
  • Acordar várias vezes durante a noite
  • Acordar e não conseguir voltar a dormir
  • Sono inquieto
  • Ter um sono muito leve, não reparador
  • Sono perturbado pela presença de sonhos
  • Acordar cansado, apesar de ter dormido a noite toda

O que caracteriza a insônia é a indisposição durante o dia, não importando a quantidade de horas dormidas. Cada pessoa pode necessitar de quantidades diferentes de horas de sono para sentirem-se descansadas no dia seguinte.  Os insones sentem-se cansados, têm ardência nos olhos, irritabilidade, ansiedade, dificuldade para se concentrar, dificuldades com atenção e memória, fobias, mal estar e sonolência.

A insônia pode ser passageira e estar relacionada com algum acontecimento recente na vida da pessoa, ou pode ser devida a causas externas ou temporárias. Por exemplo: mudança repentina no clima, quarto muito quente ou muito frio, luminosidade, tomar estimulantes antes de dormir (chá, café ou medicamentos), doenças como a asma ou as que envolvem dor, prurido, etc, perturbação emocional ou preocupação. Este tipo de insônia desaparecerá assim que o indivíduo eliminar as causas.

As causas da insônia podem ainda estar relacionadas com ansiedade, depressão ou estresse.

Contudo, se os sintomas persistirem por mais de um mês e interferir na qualidade de vida do paciente, deve ser tratada.

Às vezes, os problemas são tão intensos que a mente adormecida não consegue resolver. Quando isso acontece, não conseguimos passar do primeiro estágio do sono, e as sensações incômodas do presente nos perturbam o sono, pois a situação é continuamente revista, geralmente em forma de pesadelo. Isso quer dizer que o cérebro não consegue passar para o segundo estágio, provavelmente porque não há registros de experiências passadas que possam nos ajudar.

Suponhamos que temos um fator perturbador em nossa vida, mas não temos consciência do problema. Ora, se ao dormir ficamos inconscientes, ‘às vezes a falta de sono pode significar que não podemos ficar inconscientes frente a uma situação. Então acordamos para tomarmos consciência do problema e assim ele poderá ser resolvido, dormindo ou acordados. Por exemplo:

Uma pessoa não tem consciência de quanto o seu trabalho está sendo perturbador e insatisfatório e justifica o ato de ir trabalhar todos os dias assim: “O ambiente é ótimo”, “O salário é justo”, “Pelo menos ocupo o meu tempo”. O indivíduo sobrepõe essas justificativas ao seu descontentamento, seja pela falta de desafios, pela não utilização de todo o seu potencial, pelo “bloqueio” em seu crescimento/desenvolvimento, etc.

Essa pessoa pode desenvolver um quadro de insônia para tomar consciência de sua insatisfação e continuar a se desenvolver…

TRATAMENTOS

São vários os tratamentos oferecidos para a insônia. Como vimos, as causas podem ser as mais diversas, e sempre haverá uma técnica que se adapte ao seu caso e a sua maneira de ser e ver o mundo.

Existem os tratamentos medicamentosos e os tratamentos alternativos, como a psicoterapia, as técnicas de relaxamento, massoterapia, Reiki, Acupuntura, Feng Shui, entre outros.

Em alguns casos, faz-se necessário associar várias técnicas. Aqui vai um breve comentário sobre cada uma das técnicas:

MEDICAMENTOS:

Segundo a Sociedade Brasileira do Sono, os Medicamentos indutores do sono “benzodiazepínicos” são medicamentos utilizados em excesso no Brasil. Este tipo de medicamento deve ser utilizado sob orientação médica e por pouco tempo, uma vez que apresentam rápida tolerância (a dose utilizada deixa de fazer efeito, necessitando doses cada vez mais altas) e dependência (a retirada tem que ser gradual, pois o organismo acostuma com o medicamento, podendo acorrer síndrome de abstinência se não retirado adequadamente). Além destes cuidados, a qualidade do sono fica alterada com o uso destes medicamentos, passando a dormir mais tempo, porém de forma mais superficial, ocorrendo diminuição do sono profundo que é aquele que realmente descansa. Por estes motivos, é muito perigoso se automedicar ou usar comprimidos de parentes e amigos sem orientação médica.

PSICOTERAPIA:

Auxilia o paciente a detectar e trabalhar as causas emocionais que levam a insônia. Para isso, a psicoterapia se vale de várias técnicas, inclusive a interpretação de sonhos, já que neles se encontram as “chaves” para a solução de nossos problemas.

MASSOTERAPIA, ACUPUNTURA, REIKI, TÉCNICAS DE RELAXAMENTO

São técnicas que harmonizam nossa energia vital, dando-nos maiores condições para que, em equilíbrio, possamos encontrar as soluções para a (s) causa(s) que levaram até a insônia.

FENG SHUI

O Feng Shui trata da energia do ambiente no qual se dorme, harmonizando-o. Assim sendo, favorece para que, durante o sono, nos voltemos para o nosso interior, sem as influências energéticas externas “nocivas ao sono”.

Finalmente, quando dormimos, estamos em um estado alterado de consciência que favorece para acessar informações que não estão disponíveis na nossa consciência. Assim sendo, a insônia deve ser considerada como um sintoma e não como uma doença. É um sintoma de que “algo não anda bem”, “algo dever ser resolvido”, em última instância, nosso crescimento está bloqueado, por algum motivo. O mais importante é identificar o que levou o indivíduo a ter dificuldade em dormir. Assim sendo, a insônia deve ser tratada em sua causa. O sintoma desaparecerá assim que a causa for tratada.

DICAS PARA UMA BOA NOITE DE SONO:

  1. Cada pessoa necessita de uma quantidade de sono para se sentir bem no dia seguinte. Procure dormir quantas horas forem necessárias para que você se levante disposto.
  2. Estabeleça o mesmo horário para se deitar e levantar todos os dias
  3. O ambiente no qual você dorme deve ter boas condições para favorecer o sono: deve ser silencioso, ventilado, escuro e com temperatura agradável. O colchão deve ser confortável, bem como os lençóis e travesseiros. Se puder, verifique o FENG SHUI do local.
  4. Ingerir alimentos leves próximo à hora de dormir
  5. A cama deve estar relacionada ao ato de dormir. Procure não ver televisão, comer, ler, etc na cama
  6. Evitar: bebidas alcoólicas, cigarro e bebidas com cafeína à noite
  7. Pratique exercícios regularmente, durante o dia.
  8. Evite atividades estimulantes à noite
  9. Procure se ocupar durante o dia. Evite ficar ocioso. A noite deve ser reservada para atividades que induzam ao relaxamento.
  10. Evite cochilar durante o dia para não atrapalhar o seu sono à noite
  11. Finalmente, de acordo com a visão da Medicina Chinesa, a melhor posição para dormir, é deitar sobre o lado direito, com as pernas levemente curvadas. Esta posição permite que o Coração fique em uma posição mais alta de tal forma que o sangue possa circular livremente, o Fígado numa posição mais baixa, para que o sangue possa ser coletado, enraizando a Alma etérea.

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